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sexta-feira, 13 de maio de 2016

Cloud Atlas - David Mitchell


AUTOR: David Mitchell
EDITORA: Sceptre
ISBN: 9780340822784
LANÇAMENTO: 2004
NÚMERO DE PÁGINAS: 529

Os narradores ouvem seus ecos na história e mudam seus destinos de maneiras grandes e pequenas, em um estudo do perigoso anseio da humanidade por poder. Um viajante relutante cruza o Pacífico em 1850. Um compositor deserdado invade um domicílio na Bélgica do entre-guerras. Um editor de fofocas foge de uma gangue credores. Outros incluem uma jornalista na Califórnia do governador Reagan e uma garçonete geneticamente modificada no corredor da morte. Finalmente, um jovem ilhéu do Pacífico testemunha o crepúsculo da ciência e civilização.

Tradução própria: The narrators hear their echoes in history and change their destinies in ways great and small, in a study of humanity's dangerous will to power. A reluctant voyager crosses the Pacific in 1850. A disinherited composer gatecrashes in between-wars Belgium. A vanity publisher flees gangland creditors. Others are a journalist in Governor Reagan’s California, and genetically-modified dinery server on death-row. Finally, a young Pacific Islander witnesses the nightfall of science and civilization.
TRAILER
Fonte: YouTube

Três anos atrás, por recomendação de um amigo e após ter visto o filme, comecei a ler Cloud Atlas, mas por algum motivo, não consegui entrar em um ritmo para ler o livro e acabei por praticamente abandoná-lo - e quando digo algum motivo, preciso, de fato, deixar em aberto, afinal não há uma única razão objetiva para que desgoste da história. Apenas em janeiro de 2016 resolvi recomeçar minha leitura e me deparei com um dos livros mais incríveis que tive o prazer de ler ao longo da vida.

Qualquer pessoa que me conheça – ou até mesmo que tenha lido alguma resenha escrita por mim – sabe o quanto valorizo o estilo de escrita e Cloud Atlas não tem um estilo de escrita agradável. Ênfase no um. Cloud Atlas tem vários estilos de escrita completamente diferentes e absolutamente fascinantes. “Mas como?”, pergunta o leitor inadvertido.

Cloud Atlas conta uma e múltiplas histórias. Mais especificamente, seis histórias diferentes que percorrem os séculos, entrelaçando-se em uma trama principal que une tempos e espaços diversos. Há quem diga – e inclusive o filme segue esta linha interpretativa – que o tema principal seja reencarnação, mas eu particularmente vi uma história sobre o capitalismo e suas consequências para indivíduos e a sociedade em que estão inseridos.

Começando no século XIX, com um americano que entra em contato com povos colonizados, passa pelos anos ’30 do século XX através da história de um jovem compositor, Robert Frobisher, que se encontra em dificuldades financeiras por querer se dedicar à sua paixão pela música (e aqui se trata brevemente da questão de direitos autorais e a exploração do trabalho alheio). Em seguida, mergulhamos com Luisa Rey, escritora de um tabloide, em uma aventura que busca revelar o verdadeiro impacto dos planos de uma corporação, incitada pelo já idoso cientista Rufus Sixmith (que, vale notar, é o destinatário das cartas de Frobisher). Tim Cavendish é a próxima vítima do capitalismo, editor extorquido e em seguida socialmente excluído devido à sua avançada idade, não mais útil para mover as engrenagens do sistema. E por falar em eliminação dos economicamente inúteis, chegamos à história de Sonmi-451, certamente a mais fascinante em questão de contexto histórico. Em dois capítulos, como muito bem disse Edward Keag, David Mitchell constrói uma distopia corpocrática muito mais fascinante e consistente que a de muitos livros dedicados inteiramente a um futuro distópico. Sonmi-451, um clone projetado para servir, concede uma entrevista para um jornalista e conta sua história de ascensão intelectual (e talvez social), que a levou a compreender o funcionamento do sistema em qual está inserida em suas nuances mais perversas. Por fim, a história culmina em uma sociedade de um futuro distante que mais se parece uma sociedade tradicional* e um momento de raro contato desta sociedade com alguém de fora, de uma sociedade tipicamente moderna. E aqui, é como se voltássemos ao princípio do livro, em que o moderno e o tradicional interagem, porém o ponto de vista é invertido. Agora não é narrador o navegante americano, mas o nativo do povo do vale (tradução própria). É como se a história fosse cíclica, começando e terminando no mesmo ponto de interação social, apesar de em momentos diferentes da história do mundo.

"Seu mundo me intrigava; suas diferenças em comparação com o nosso eram indescritíveis. Sangue-puros faziam todo o trabalho subalterno; os únicos clones eram ovelhas doentias. As pessoas decaíam e ficavam feias ao envelhecerem; nada de dewdrugs. Idosos esperavam a morte em prisões para os senis e incontinentes; nada de vidas com duração fixa, nada de euthanasium."

Trad. própria: Its world intrigued me; its diferences from our own were indescribable. Purebloods did all the menial work then; the only fabricants were sickly sheep. People sagged and uglified as they aged; no dewdrugs. Elderly people waited to die in prisons for the senile and incontinent; no fixed-term lifespans, no euthanasium.

Outro aspecto fascinante é a estrutura do livro, dividido em capítulos, cada um – ou melhor, cada dois, exceto pela história de Zachry – com um formato diferente. E, como dito previamente, Mitchell escreve com proeza nos diversos estilos que decide empregar – diário, carta, narrativa, diálogo e monólogo – jamais negligenciando sequer a ação que o tempo tem sobre a linguagem. São, portanto, notáveis as evoluções da língua, seja com o uso de termos já obsoletos ao longo da narrativa que se passa em 1800, que com a criação de novas palavras, visível principalmente na história de Somni-451.

Mas, pergunta o leitor desinteressado nas questões político-econômicas, por que ler este livro? Porque Cloud Atlas não é essencialmente político-econômico. Cloud Atlas é essencialmente nada e tudo, é história, é ficção científica, é thriller, é romance, é sociologia, é aventura, é crítica econômico-social, é distopia, é drama. Cloud Atlas é pluralidade, é representação - An Orison of Sonmi-451 se passa na Coréia, Robert Frobisher de Letters from Zedelghem é bissexual, a representante da sociedade moderna em Sloosha’s Crossin’ an’ Ev’rythin’ After é negra, Tim Cavendish é idoso, Zachry é membro de uma sociedade tradicional do Havaí. Em suma, a história é capaz de se destacar ao menos parcialmente do padrão europeu, branco, jovem, heterossexual de classe média e, mesmo não sendo o espectro da diversidade, traz representação.

 “Minha vida equivale a não mais que uma gota em um oceano sem limites. Mas o que é um oceano senão uma multidão de gotas?”
Trad. própria: “My life amounts to no more than one drop in a limitless ocean. Yet what is any ocean, but a multitude of drops?”

Cloud Atlas é um pouco de tudo e, por isso, pode ser lido por qualquer um; pode ser uma leitura leve, de mera ficção, ou profundamente crítica, de histórias fictícias que trazem consigo mais realidade do que aparentam a princípio. Não entendo como demorei 3 anos para terminar esta obra, mas posso dizer que cheguei ao final com aquele gosto doce-amargo na boca: feliz por ler algo tão incrível, triste por não ter mais nada a ser lido sobre.

*o que, popularmente, se chama de “sociedade primitiva”, mas não precisamos nem discutir o quão problemático este termo é, não?

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